quarta-feira, 13 de maio de 2020

13 de Maio

O dia 13 de Maio, no Brasil, simboliza a abolição da escravatura.
Por isso, homenageamos aqui, hoje, aqueles que foram lideranças fundamentais da luta abolicionista.

José do Patrocínio

Foto: Academia Brasileira de Letras.

José Carlos do Patrocínio (1853 — 1905, fluminense) foi um farmacêutico, jornalista, escritor, orador e ativista político brasileiro. Destacou-se como uma das figuras mais importantes dos movimentos Abolicionista e Republicano no país. Foi também idealizador da Guarda Negra, que era formada por negros e ex-escravos, sendo vanguarda do movimento negro no Brasil.

Suas obras:
  • 1875: Os Ferrões, quinzenário satírico, 10 números, em colaboração com Dermeval Fonseca;
  • 1877: Mota Coqueiro ou A pena de morte, romance;
  • 1879: Os retirantes, romance;
  • 1883: Manifesto da Confederação Abolicionista;
  • 1884: Pedro Espanhol, romance;
  • 1885, 17 de maio: Conferência pública, no Teatro Politeama, em sessão da Confederação Abolicionista;
  • "Associação Central Emancipadora", 8 boletins.

Luís Gama
Imagem: internet.

Luís Gonzaga Pinto da Gama (1830 – 1882, soteropolitano) foi um advogado, orador, jornalista, escritor brasileiro e o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil.
Nascido de mãe negra livre e pai branco, foi contudo feito escravo aos 10 anos, e permaneceu analfabeto até os 17 anos de idade. Conquistou judicialmente a própria liberdade e passou a atuar na advocacia em prol dos cativos, sendo já aos 29 anos autor consagrado e considerado "o maior abolicionista do Brasil".
 Foi um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século XIX, o único autodidata e o único a ter passado pela experiência do cativeiro. Pautou sua vida na defesa da liberdade e da república: ativo opositor da monarquia, veio a morrer seis anos antes de ver seus sonhos concretizados.

Suas obras:

1859: Primeiras trovas burlescas de Getulino 
1861: Novas trovas burlescas

Um pouco de poesia:

Quem sou eu?
Quem sou eu? que importa quem?
Sou um trovador proscrito,
Que trago na fronte escrito
Esta palavra — Ninguém! —
(A. E. Zalvar — Dores e Flores)

Amo o pobre, deixo o rico,
Vivo como o Tico-tico;
Não me envolvo em torvelinho,
Vivo só no meu cantinho:
Da grandeza sempre longe,
Como vive o pobre monge.
Tenho mui poucos amigos,
Porém bons, que são antigos,
Fujo sempre à hipocrisia,
À sandice, à fidalguia;
Das manadas de Barões?
Anjo Bento, antes trovões.
Faço versos, não sou vate,
Digo muito disparate,
Mas só rendo obediência
À virtude, à inteligência:
Eis aqui o Getulino
Que no pletro anda mofino.
Sei que é louco e que é pateta
Quem se mete a ser poeta;
Que no século das luzes,
Os birbantes mais lapuzes,
Compram negros e comendas,
Têm brasões, não — das Kalendas,
E, com tretas e com furtos
Vão subindo a passos curtos;
Fazem grossa pepineira,
Só pela arte do Vieira,
E com jeito e proteções,
Galgam altas posições!
Mas eu sempre vigiando
Nessa súcia vou malhando
De tratantes, bem ou mal
Com semblante festival.
Dou de rijo no pedante
De pílulas fabricante,
Que blasona arte divina,
Com sulfatos de quinina,
Trabusanas, xaropadas,
E mil outras patacoadas,
Que, sem pinga de rubor,
Diz a todos, que é DOUTOR!
Não tolero o magistrado,
Que do brio descuidado,
Vende a lei, trai a justiça
— Faz a todos injustiça —
Com rigor deprime o pobre
Presta abrigo ao rico, ao nobre,
E só acha horrendo crime
No mendigo, que deprime.
- Neste dou com dupla força,
Té que a manha perca ou torça.
Fujo às léguas do lojista,
Do beato e do sacrista —
Crocodilos disfarçados,
Que se fazem muito honrados,
Mas que, tendo ocasião,
São mais feroz que o Leão.
Fujo ao cego lisonjeiro,
Que, qual ramo de salgueiro,
Maleável, sem firmeza,
Vive à lei da natureza;
Que, conforme sopra o vento,
Dá mil voltas num momento.
O que sou, e como penso,
Aqui vai com todo o senso,
Posto que já veja irados
Muitos lorpas enfunados,
Vomitando maldições,
Contra as minhas reflexões.
Eu bem sei que sou qual Grilo,
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
Desta arenga receiosos
Hão de chamar-me Tarelo,

Bode, negro, Mongibelo;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo
Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bode
Pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta,
Pois que a espécie é muito vasta.
Há cinzentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus, e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes...
Aqui, nesta boa terra
Marram todos, tudo berra;
Nobres Condes e Duquesas,
Ricas Damas e Marquesas,
Deputados, senadores,
Gentis-homens, veadores;
Belas Damas emproadas,
De nobreza empantufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes
Em todos há meus parentes.
Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, Cabos, Furriéis,
Brigadeiros, Coronéis,
Destemidos Marechais,
Rutilantes Generais,
Capitães de mar-e-guerra,
— Tudo marra, tudo berra —
Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.
Entre o coro dos Anjinhos
Também há muitos bodinhos. —
O amante de Syiringa
Tinha pêlo e má catinga;
O deus Mendes, pelas contas,
Na cabeça tinha pontas;
Jove quando foi menino,
Chupitou leite caprino;
E, segundo o antigo mito,
Também Fauno foi cabrito.
Nos domínios de Plutão,
Guarda um bode o Alcorão;
Nos lundus e nas modinhas
São cantadas as bodinhas:
Pois se todos têm rabicho,
Para que tanto capricho?
Haja paz, haja alegria,
Folgue e brinque a bodaria;
Cesse pois a matinada,
Porque tudo é bodarrada!

(Luís Gama, Primeiras trovas burlescas de Getulino, 1859).


Nascimento de Lima Barreto

Imagem: internet.

Afonso Henriques de Lima Barreto, mais conhecido como Lima Barreto (Rio de Janeiro, 13 de maio de 1881 — Rio de Janeiro, 1 de novembro de 1922) foi um jornalista e escritor brasileiro, que publicou romances, sátiras, contos, crônicas e uma vasta obra em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX.

Era filho de João Henriques de Lima Barreto, filho de uma antiga escrava e de um madeireiro português, e de Amália Augusta, filha de escrava e agregada da família Pereira Carvalho.

Autor de uma vasta obra literária, Lima Barreto tem como seu livro mais conhecido Triste fim de Policarpo Quaresma, publicado em 1911.

Imagem: Divulgação.

Essa obra também foi adaptada para HQs e para o cinema:

 Imagem: Divulgação.
 Imagem: Divulgação.

Imagem: Divulgação.

Você conhecia esses autores da luta abolicionista?






4 comentários:

  1. Conheci Lima Barreto na minha pré-adolescência através de Policarpo Quaresma mesmo, a obra mais conhecida.

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  2. As poesias de Luís Gama são muito profundas a ardem no peito a história da escravidão e, nos dias de hoje, a luta por igualdade entre negros e brancos, em uma sociedade onde ainda temos que defender o óbvio. Conheci Lima Barreto no ensino médio, também com sua obra mais conhecida.

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    1. Li uma tese importante, intitulada "A ESTÉTICA DO SER/ESTAR NO “ENTRE LUGARES”
      IMAGENS DO NEGRO, DO MESTIÇO, DO MULATO E DO BRANCO EM
      PRIMEIRAS TROVAS BURLESCAS DE GETULINO, DE LUIZ GAMA", de Maria Regina Paulino. Dê uma olhada.

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  3. Estefane, a dissertação que sugeriu é muito boa, uma leitura a mais para a compreensão da obra de Luís Gama.

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Gostaria que pudéssemos discutir aqui, neste espaço de publicação.