quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Caramuru - Santa Rita Durão

 

O Caramuru é um poema épico, do Frei Santa Rita Durão, escrito em 1781.

Conta a história de Diogo Álvares Correia, apelidado pelos Tupinambás de Caramuru, e de Paraguaçu, índia que se tornou sua esposa. 

 

De um varão em mil casos agitado, 

Que as praias discorrendo do Ocidente, 

Descobriu o Recôncavo afamado

 Da capital brasílica potente:

 Do Filho do Trovão denominado, 

Que o peito domar soube à fera gente; 

O valor cantarei na adversa sorte, 

Pois só conheço herói quem nela é forte.

(I, Canto I)

 

 Para ler a obra de Durão na íntegra, acesse Domínio Público

 

📚 Sobre esta obra, Antonio Candido, no seu Na sala de aula: caderno de análise literária, publicado em 1984, nos diz:

"Mesmo sem querer recuar conceitos anacronicamente, parece que o Caramuru pode ser considerado uma epopeia do tipo que se chamaria hoje colonialista, porque glorifica métodos e ideologias que censuramos até no passado. Mas que ainda são aceitos recomendados e praticados pelos amigos da ordem a todo preço, entre os quais se alinharia o nosso velho Durão, que era filho de um repressor de quilombos e hoje talvez se situasse entre os reacionários, com todo o seu talento, cultura e paixão. Como sabemos, o Caramuru é uma resposta ao Uraguai, cujo pombalismo ilustrado estava mais perto daquilo que no tempo era progresso. Mesmo sendo progresso de déspota esclarecido, useiro da brutalidade e do arbítrio. A possível atualidade do Caramuru estaria um pouco na presença constante da violência e da opressão, disfarçadas por uma ideologia bem arquitetada, que tranquiliza a consciência. Durão é em grau surpreendente um poeta da guerra e da imposição cultural, e não ficaria deslocado em nosso tempo excepcionalmente bruto e agressivo.

 

💭 Como uma obra que traz essa postura reacionária seria lida atualmente? Será que agradaria aos reacionários da atualidade?

terça-feira, 17 de novembro de 2020

20 de Novembro - DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA



    O ENLACE e o NECLE, projetos de extensão do Departamento de Letras Estrangeiras - DLE, promovem neste dia 20 de Novembro de 2020, o segundo evento do DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA do Campus Avançado de Pau dos Ferros.
    Neste ano o evento será realizado de modo remoto, via Meet.
    As inscrições estão sendo realizadas através do link
    As atividades acontecerão nos turnos Vespertino e Noturno.

    As mesas de discussão tratarão sobre identidade, empoderamento e reconhecimento do povo negro a partir do olhar permitido pelas diferentes artes.

    Professoras e Alunas dos cursos de Letras, pesquisadoras na área, tratarão de diferentes temas.
   Os links de acesso às salas virtuais e a programação das atividades serão enviados aos inscritos via e-mail cadastrado na inscrição.
    O evento tem a carga horária total de 6 h/a.

    Mais informações em @enlace.uern

Venha participar conosco!

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Roland Barthes

 

Roland Barthes nasceu em Cherbourg, em 12 de Novembro de 1915 e faleceu em 26 de Março de 1980.

Foto: Internet.

    Em sua obra Roland Barthes por Roland Barthes, podemos conhecer mais sobre seus diferentes olhares a partir de seus biografemas, termo criado pelo próprio autor.

    No estudo A câmara clara, compreendemos como ter um olhar diferente para a fotografia, a partir da qual Barthes faz profundas reflexões.

    Em Fragmentos de um discurso amoroso, Barthes nos faz refletir sobre diferentes figuras relacionadas ao amor.

    Já em Mitologias, nos deparamos com uma profunda discussão do conceito de signo, a partir de ensaios sobre os assuntos mais improváveis, recolhidos de revistas, jornais, cinema e outros veículos de comunicação, como é o caso do ensaio que discute o bife com batata frita, ou a ascensão da margarina no lugar da tradicional manteiga. Conheça essa obra em Lelivros

    Em O neutro, podemos pensar e discutir sobre diferentes figuras, como a fadiga, a delicadeza, o silêncio, a resposta, o sono...

    Formado em Letras Clássicas e em Filosofia, Barthes fez parte da escola estruturalista, mais tarde sendo conhecido com pós-estruturalista. Como escritor, semiólogo e crítico literário francês, Roland Barthes deixou uma vasta obra que contempla diferentes áreas de conhecimento, tratando dos mais variados assuntos a partir dos mais diversos olhares.

    Em 2016, Laurent Binet, jovem e contemporâneo escritor francês,  volta a transitar pela fronteira entre ficção e realidade (depois de vencer o Prêmio Goncourt com seu primeiro romance, HHhH) com uma engenhosa e bem-humorada mescla do que a crítica especializada chama de "thriller histórico e farsa filosófica": Quem matou Roland Barthes?. O título da obra em francês é La septième Fonction du langage. A ideia central do romance é simples: "e se o atropelamento que matou o crítico e semiólogo francês Roland Barthes não tivesse sido um acidente, mas sim um crime? E se o autor de Fragmentos de um discurso amoroso tivesse sido vítima de uma conspiração por estar de posse de um manuscrito contendo a sétima função da linguagem, última parte da teoria do linguista Roman Jakobson nunca revelada, capaz de convencer qualquer um de qualquer coisa?" Entre os intelectuais e políticos da Paris da época da morte de Barthes, em que transitam personagens como Foucault, Derrida, Deleuze, Althusser e Guattari, qualquer um pode ser o culpado...

    De quem você desconfia?

    Você pode conhecer esse romance de Binet em Lelivros

 

    Neste dia que marca 105 anos do seu nascimento, nossos parabéns a Roland Barthes!!!



domingo, 23 de agosto de 2020

Oferta de curso de curta duração sobre literatura angolana

Curso de curta duração: Elementos sociais e culturais na obra "Os da minha rua", de Ondjak

 

 

 

Carga horária: 30h 06 encontros virtuais - cada encontro corresponde a 5 h/a (2 h/a de vídeo- aula e 3 h/a correspondente à prática de leitura e pesquisa). 

Início: 27/08/2020 

Término: 01/10/2020 

Público-alvo: Interessados em Literatura Angolana. 

Vagas limitadas a 16 participantes. 

Gratuito.

🔗Inscrições clique Aqui..

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Oferta de Minicurso

MINICURSO: O Arquivo e a Literatura: relações agonísticas entre o arquivo e a literatura na obra de Adriana Falcão à luz de Jacques Derrida


Carga horária total: 30h, sendo 06 encontros virtuais semanais - cada encontro corresponde a 5 h/a (2 h/a de vídeo-aula e 3 h/a correspondente à prática de leitura e pesquisa).

Início: 18/08/2020.

Término: 22/09/2020.

Horário: 13h30 - 15h30 - Terças-feiras.

Público-alvo: Alunos e profissionais da área de Letras.

Gratuito.


Adriana Falcão - Imagem: Internet.


Jacques Derrida - Imagem: G1

🔗Para inscrição, clique aqui.


terça-feira, 4 de agosto de 2020

Ponciá Vicêncio

"Quando Ponciá Vicêncio viu o arco-íris no céu, sentiu um calafrio. Recordou o medo que tivera durante toda a infância. Diziam que menina que passasse por debaixo do arco-íris virava menino. Ela ia buscar o barro na beira do rio e lá estava a cobra celeste bebendo água. Como passar para o outro lado? Às vezes ficava horas e horas na beira do rio esperando a colorida cobra do ar desaparecer. Qual nada! O arco-íris era teimoso! Dava uma aflição danada. Sabia que a mãe estava esperando por ela. Juntava, então, as saias entre as pernas tapando o sexo e, num pulo, com o coração aos saltos, passava por debaixo do angorô. Depois se apalpava toda. Lá estavam os seinhos, que começavam a crescer. Lá estava o púbis, bem plano, sem nenhuma saliência, a não ser os pelos. Ponciá sentia um alívio imenso. Continuava menina. Passara rápido, de um pulo só. Conseguira enganar o arco e não virara menino" (Ponciá Vicêncio, Conceição Evaristo, 2003).

Capa da 1ª edição. Editora Mazza.

    Ponciá Vicêncio é uma das mais belas e difíceis histórias de nossa Literatura Brasileira Contemporânea. Ao ler a história nos deparamos com uma personagem forte, emotiva e de grande coração.

"Quando Ponciá Vicêncio resolveu sair do povoado onde nascera, a decisão chegou forte e repentina. Estava cansada de tudo ali. De trabalhar o barro com a mãe, de ir e vir às terras dos brancos e voltar de mãos vazias. De ver a terra dos negros coberta de plantações, cuidadas pelas mulheres e crianças, pois os homens gastavam a vida trabalhando nas terras dos senhores, e depois a maior parte das colheitas ser entregue aos coronéis. Cansada da luta insana, sem glória, a que todos se entregavam para amanhecer cada dia mais pobres, enquanto alguns conseguiam enriquecer-se a todo o dia. Ela acreditava que poderia traçar outros caminhos, inventar uma vida nova. E avançando sobre o futuro, Ponciá partiu no trem do outro dia, pois tão cedo a máquina não voltaria ao povoado. Nem tempo de se despedir do irmão teve. E agora, ali deitada de olhos arregalados, penetrados no nada, perguntava-se se valera a pena ter deixado a sua terra. O que acontecera com os sonhos tão certos de uma vida melhor? Não eram somente sonhos, eram certezas! Certezas que haviam sido esvaziadas no momento em que perdera o contato com os seus. E agora feito morta-viva, vivia" (Ponciá Vicêncio, Conceição Evaristo, 2003).

    Ela sai de casa, no campo, ainda muito jovem, em busca de uma vida melhor na cidade grande, para onde, um dia planeja levar sua mãe, Maria Vicêncio, e seu irmão, Luandi José Vicêncio, já que seu pai e seu avô haviam passado para o outro lado da vida.
    Lemos também a luta da população negra que, sendo descendentes de escravizados, conseguem ter forças para buscar alcançar seus sonhos.
    Repleta de lirismos e recordações, Ponciá Vicêncio é uma daquelas histórias que lemos com o coração apertado em vários momentos, com o nó na garganta em outros e com um riso de alegria ao conhecer personagens tão determinadas, de tão grande amor aos laços familiares e à terra onde nasceram, ao barro de que sua história é moldada.

Imagem: http://www.pretaenerd.com.br/2018/05/olhos-dagua-multiplicidades-da.html

    Sobre Ponciá Vicêncio, Maria José Somerlate Barbosa nos diz no posfácio da obra de Conceição Evaristo:

"Havia muito não lia um texto que captasse tão sinceramente os elos de ternura e afeição entre os personagens e que simultaneamente trabalhasse a linguagem de forma bastante poética, expressando tanto a ânsia de definir sua identidade num ambiente marcado pelas diferenças econômicas, sociais e raciais. Considero que, apenas nos contos de Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Vidas secas de Graciliano Ramos, encontrei algo semelhante. É um romance que li de um só fôlego porque, além de me prender a atenção, me tomou pelos sentidos para percorrer com Ponciá os labirintos e as vias tortuosas da memória".

🔗
Para saber mais sobre Conceição Evaristo, visite Literafro.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Polycarpo Feitosa e Gizinha

    Polycarpo Feitora é o nome assinado pelo romancista potiguar Antônio José de Melo e Souza em suas produções literárias. Autor de vários romances iniciados já em idade madura, é vasta a produção de leitura crítica de sua obra, apesar de pouco conhecido pelos próprios potiguares.


    Sua obra mais conhecida é Gizinha, romance ambientado nos anos 1920, cuja personagem protagonista, que dá nome ao livro é uma verdadeira allumeuse.

“Adalgiza era um curioso tipo dessa categoria de meninas a que a gíria das calçadas e das casas de chá do Rio chama “melindrosa”. Linda, sem ser um modelo de beleza, de estatura regular num meio em que a maioria fica abaixo da média, corpo rijo e bem conformado, tinha mais de uma perfeição física – os olhos castanhos, sombreados por extensas pestanas que lhes não velavam o brilho, um narizinho de menina travessa, levemente arrebitado, cuja petulância atraía e fazia medo ao mesmo tempo.

Arranjara um fumaça de instrução, que lhe levaram à casa os melhores professores da terra, tocava piano como toda menina que tem piano, e odiava cozinha pelo cuidado que lhe mereciam as mãos, de pele muito fina e unhas em ponta, que ela tratava, esfregava, polia durante uma boa meia hora diária, antes do almoço.

Mas sua principal distinção, a que a maior número de admiradores lhe conquistara era a dança. Nos bailes de casas amigas, nos do Natal Clube ou nos famosos maxixes políticos do “Carlos Gomes”, ela figurava entre as mais espevitadas dançarinas de tango e de todas as palhaçadas de nomes anglo-saxônios, cujos requebros e tremeliques, mais ou menos obnóxios, conhecia como profissional.

Desnudada por uns vestidinhos de dois metros de finíssima fazenda batizada em francês, que exasperavam o pobre Azevedo, não pelo preço de arrancar couro, mas por não exercerem com eficácia, ao menos mediana, a principal função do indumento, ela era para certos pares, provavelmente sem intenção, uma perigosa allumeuse. E a inconsciência com que assentia em transformar a dança numa lida de borboletas sobre corolas de flores, só podia ser ingenuidade, porque não seria justo, na sua idade e estado, procurar outra explicação.

Por esta particularidade, que a sua beleza tanto realçava, era muito solicitada, sobretudo por dançadores desprovidos de escrúpulos ou carecidos de estímulos" (FEITOSA, 2003, p. 24-25).


Um romance surpreendente!

Aqueles leitores que gostam de personagens femininas transgressoras certamente irão gostar!